domingo, 13 de setembro de 2020

As fábulas de La Fontaine em cordel (ou quase)

A raposa, o lobo e o cavalo


Uma raposa existia

Jovem ainda, mas astuta  

Viu pela vez primeira 

Um cavalo diminuta

E dizendo a certo lobo 

De natureza matuta:


“Um animal venha ver!

Tão galante e corpulento 

Que em nossa terra passeia!

Encantada ainda acalento!

Uma visão se parece!”

Disse para o desatento.


"Do que nós dois é mais forte?"

Rindo o lobo perguntou.

E a raposa respondeu:

“Quem sabe a sorte o enviou!”

Onde o cavalo pastava

A dupla se apresentou. 


Ao vê-los, o cavalo 

Nenhuma graça sentiu.

Daquelas tais sorrateiras 

Criaturas ressentiu.  

“Senhor”, declamou a raposa, 

“Qual o seu nome?”, pediu.


Como não era bobó 

Respondeu-lhes o cavalo:

“Leiam meu nome, senhores;

O ferreiro no seu embalo 

Na ferradura o escreveu.”

Mostrando bem seu regalo.


Se desculpando a raposa 

Disse que pouco estudou. 

“Por meus pais deveras pobres 

Para a escola me vetou!

Já os do lobo, no caso,

Que são ricos, frequentou.”


O lobo tanto se achando 

Com a tal declaração 

Dos dois mais se aproximou 

O que custou a adulação?

Um par de coices no vento  

E seus dentes ao chão. 


Por terra o infeliz rolou 

Todo tonto e ensanguentado. 

"Irmão", disse-lhe a raposa,

“O que o atingiu acertado, 

Desconfiar dos estranhos,

Confirma bem o ditado.”